Banda Villa-Lobos faz concerto de desconstrução e reconstrução

Foto: Arquivo SCS/PMI.

É tempo de Maio Musical, mas o destino quer que o novo concerto da Banda Villa-Lobos seja uma das atrações da Virada Cultural, no dia 24 de maio, às 10h, no Ciaei. A entrada é gratuita e Wladimir Soares, que é o atual diretor  artístico da Corporação Musical Villa-Lobos, promete um espetáculo cheio de supresas, a começar pelo nome do concerto: A Banda in Progress & Fragmentos da Banda, uma paráfrase de work in progress, por se tratar de um espetáculo experimental que trabalha com o conceito de desconstrução e reconstrução da banda durante o concerto. O mote desse espetáculo, explica o diretor, veio de uma obra de Dmitri Shostakovich, a Abertura Fantasia, que vai ser tocada pela primeira vez pela Banda Villa-Lobos. E por ser uma estreia, o espetáculo vai seguir por esse caminho, apresentando um repertório que os próprios músicos sugeriram. No processo de desconstrução, serão apresentados números musicais com instrumentos solos, com duos, trios, quartetos, quintetos, quintetos dobrados – e aí a orquestra já começa a ser restaurada, com a apresentação de um combo, seguido de uma jazz band, para terminar em grande estilo com toda a banda novamente em cena. E os dois regentes desta verdadeira banda sinfônica que privilegia os instrumentos de sopros serão o maestro-titular Samuel Nascimento de Lima e o maestro-assistente, Tiago Morandi Roscani.

Quem trouxe a música de Shostakovich para os ensaios da banda foi o maestro Tiago Morandi Roscani, que já havia participado de uma apresentação com uma orquestra sinfônica. Apaixonado por esse concerto, Tiago encontrou um arranjo para banda sinfônica e sua empolgação contagiou todos os músicos. Trata-se de um concerto forte, arrebatador, que estreou em 1954 no Teatro Bolshoi, em Moscou, para comemorar o 37º aniversário da Revolução de Outubro (1917). 

O resto da história é o próprio Tiago quem conta: “Na época, o maestro do Bolshoi, Vassili Nebolsin, viu-se sem um novo trabalho adequado para abrir o concerto e contatou Shostakovich apenas alguns dias antes do evento. O compositor trabalhou com rapidez, completando a composição em três dias. Ele, aparentemente, baseou-se na Abertura de Russlan e Ludmilla, de Mikhail Glinka (1842) e possui o mesmo ritmo animado e estilo de melodia. Enquanto reflete o estilo de Shostakovich, a peça como um todo usa dispositivos clássicos muito convencionais de forma e harmonia.

A versão original da obra começa com uma fanfarra nos metais, seguido por uma melodia rápida nas madeiras. As cordas assumem essa melodia e a peça chega a um clímax com um motivo de quatro notas. De repente, a música atinge uma melodia mais lírica nas trompas e violoncelos. Shostakovich desenvolve este material em seu estilo típico, usando ambos os temas em contraponto. No final, a fanfarra retorna e leva para uma ‘coda’ empolgante.

A obra é uma peça muito conhecida do repertório orquestral. A transcrição para banda de concerto foi feita por Donald Hunsberger e essa versão foi executada em importantes eventos, como os Jogos Olímpicos de Verão de 1980, em Moscou e no Concerto de Abertura do Prêmio Nobel de 2009”.

A peça inicial desta apresentação da Banda Villa-Lobos oferece toda essa empolgação mas deixa para o grand finale um clímax ainda mais entusiasmante, com  a execução de um medley de canções do Deep Purple. E, como tem rock no final, a banda ganha uma participação especial de um roqueiro de verdade: para fazer os solos de guitarra, o concerto A Banda In Progress contará com os riffs sempre instigantes de Roberto Tempesta, que também é jornalista, publicitário e hamburgueiro.

Shostakovich no início, Deep Purple no final. E o recheio? O programa completo ficou assim:

1 -           Fantasia - Abertura Festiva, Dmitri Shostakovich, regente Tiago Morandi Roscani;

2 -           Melodia Sentimental, Heitor Villa-Lobos - Dueto de sax alto (Samuel Nascimento de Lima) e clarinete (Tiago Morandi Roscani, também autor do arranjo);

3 -           Allegro Moderato, Eugene Bozza - Dueto de Flauta (Carolina Monteiro) e Oboé (Victor Perroni);

4 -           Remexendo, Radamés Gnatali - Arranjo para Quinteto de Clarinetes (dobrados) de Aldevino Brandemburgo;

5 -           When I’m  Sixty-Four, Lennon & McCartney, arranjo de Ramón Richard;

6 -           Samba de Uma Nota Só, Antonio Carlos Jobim, arranjo de Walter Lang;

7 -           Low, Hector Costita, arranjo para combo de Antonio Carlos Neves, regente Samuel Nascimento de Lima;

8 -           Birdland, Joseph Zawinel, arranjo para big band de John Higgins, regente Samuel Nascimento de Lima;

9 -           Deep Purple Medley, arranjo para banda sinfônica de Toshiko Sahashi, regência de Samuel Nascimento e participação especial do guitarrista Roberto Tempesta.