Para pensar:

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Mario Quintana

sexta-feira, 2 de maio de 2014

‘Os Azeredo Mais Os Benevides’ no Teatro Denoy de Oliveira

Com um elenco de 20 atores trabalhando 10 horas por dia desde meados de fevereiro, o diretor João das Neves está montando no palco do Cine-Teatro Denoy de Oliveira a peça Os Azeredo Mais Os Benevides, de Oduvaldo Vianna Filho.
A peça iria inaugurar o teatro da UNE, no ano da graça de 1964. A trilha musical estava sendo composta por Edu Lobo, que já havia feito Chegança especialmente para o espetáculo. O paulista Nelson Xavier, que desde 1962 participava em Recife das atividades do Movimento de Cultura Popular (MCP), já estava no Rio para assumir a direção da peça. O teatro estava tinindo. A expectativa era de uma grande estreia.
O golpe que depôs o presidente João Goulart, ocorrido há 50 anos, impediu que isso acontecesse. O prédio da UNE – e, consequentemente, o teatro – foi incendiado na madrugada do dia 1º de abril. Depois veio a censura. Os Azeredo... ainda chegou a obter premiação, em 1966, pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT), órgão do então Ministério da Educação e Cultura e publicação em 1968. Mas montá-la, nem pensar.
A peça foi para o limbo e, após o fim da censura, inexplicavelmente permaneceu inédita. Há quem considere o texto excessivamente radical. Não vamos dizer que não seja radical, pois seu foco é a luta de classes, mas também é brilhante e transpira verdade por todos os poros. Outros avaliam que a montagem é complexa e a história datada, mas se isso fosse certo que razão haveria para encenar Shakespeare nos dias de hoje?
Por uma razão ou por outra, o fato é que fora do circuito das escolas de teatro – das boas, diga-se de passagem –, Os Azeredo Mais Os Benevides permanece inédita 50 anos depois.
Para encarar o desafio de trazê-la à luz, nada mais apropriado do que contar com o trabalho do diretor João das Neves – que, no auge dos 80 anos de uma vida talentosa, produtiva e coerente, se lembra bem do dia em que teve que deixar o prédio da UNE, que ardia em chamas – e montá-la no palco que leva o nome do multiartista Denoy de Oliveira, outro ex-integrante do CPC da UNE que estava lá naquela ocasião. A trilha musical iniciada por Edu Lobo foi completada pelo maestro Marcus Vinicius, pernambucano atraído para a vida artística pelos ventos emanados da experiência do MCP.
O time está formado e a estreia, prevista para hoje, 2 de maio. A produção é do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES). Vianinha, do céu, agradece. Nós, o público, também.

Serviço:
Local: Cine-Teatro Denoy de Oliveira - Rua Rui Barbosa 323, Bela Vista, São Paulo – Tel.: (11) 3289-7475
Horários: sextas e sábados: 21h – domingos: 20h
Ingressos: R$30,00 (meia-entrada R$15,00)
Temporada: 2 de maio a 8 de junho de 2014. Duração: 80 min. Recomendação: 14 anos.
Produção: CPC-UMES
Apoio na Divulgação: Edson Lima/O Autor na Praça – Tel. (11) 3739-0208/95030-5577 – oanp@uol.com.br.

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