Foram décadas seguidas martelando na cabeça do
consumidor que cerveja é uma bebida clara, a ser bebida muito gelada. Se for
escura, é leve e muito, muito doce. Esse mantra ainda ecoa nas preferências da
esmagadora maioria dos consumidores brasileiros.
Nos anos 90, o cenário começou a mudar. A abertura
dos mercados, há pouco mais de 20 anos, permitiu a chegada de rótulos antes
acessíveis somente aos que viajavam ao exterior. A estabilidade da economia
também inflou o número destes viajantes, ampliando o repertório de cada um.
Hoje, é fácil perceber um leque cada vez maior de escolhas nos supermercados,
empórios, bares e restaurantes. Contudo, uma crença arraigada não se dissipa da
noite para o dia. É preciso persistência. Como profissional da área, procuro
desmistificá-la sempre que surge uma oportunidade.
Cerveja escura não é necessariamente cerveja
“preta”. Os tons variam do âmbar suave ao negro absoluto e a variação de aromas
e sabores é ainda maior que a paleta de cores.
Na Bélgica, temos as cervejas do tipo abadia, mais
adocicadas e alcoólicas. Um degrau acima, estão as trapistas, produzidas em
apenas sete mosteiros (um deles está na Holanda). Complexas, aromáticas e com
teor alcoólico elevado, são mais caras e feitas para uma degustação lenta, tal
como uma liturgia.
Na Grã-Bretanha, temos as Pale Ale e Bitter,
estilos que equilibram malte e lúpulo com maestria. O amargor não chega a ser
intenso como o de uma IndiaPale Ale,
variante mais potente e com dose extra de lúpulo. Há ainda o estilo BarleyWine, ou “vinho de cevada”, com
bastante álcool e malte, bom para acompanhar pratos robustos. Um estilo pouco
conhecido, Wee Heavy, é oriundo da
Escócia, excelente para os dias mais frios. Finalmente, as escuras Porter e Stout, esta última popularizada pela cervejaria Guinness. Aqui, o
tostado predomina, com amargor marcante.
Na Alemanha, temos a Bock e a Doppelbock (mais
forte), geralmente em tons castanho-avermelhados, cervejas de baixa fermentação
(lager) e maior teor alcoólico,
elaboradas com malte levemente tostado. Para quem não quer muito álcool, mas
gosta de cerveja escura, a dica são os estilos Dunkel e Schwarzbier. Já
os apreciadores das cervejas de trigo ficarão encantados com a Weinzenbock, uma Bock de trigo.
Há ainda outros estilos, mas, a
partir destes, é possível iniciar uma jornada bem interessante pelo lado escuro
da cerveja. Aventure-se!
Fonte: Alessandro Pinesso/Gastrovia.
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