Ao lado de Paulo Braga ao piano e Sergio Espíndola no violão e
baixo, Arrigo canta diversas canções de Lupicínio norteado pela raiva e pela
angústia inerentes as canções do compositor. O humor também permeia todo o
trabalho, porém sem perder a ironia e o sarcasmo.
Vanguardista e ousado, Arrigo Barnabé soube explorar a riqueza e o
lirismo cortante de um grande compositor do século passado para produzir seu
atual trabalho em que faz uma homenagem ao boêmio genial. Quase que iluminado à
luz de velas, a rouca e irônica voz de Arrigo corta o silêncio e a penumbra da
noite. É completamente adequado para interpretar a raiva e a angústia poética
de Lupicínio.
Desde os anos 80, Arrigo é considerado um grande inovador. Sua
marca registrada foi a de misturar música popular brasileira e rock com elementos eruditos. Essa
química própria acabou gerando uma identidade única, que ele usa agora para
proporcionar uma inovadora interpretação dos grandes clássicos de Lupicínio
Rodrigues, retomando o diálogo com a música popular após mais de 10 anos
voltado intensamente à música erudita e contemporânea.
“Não acredito em nada que não tenha angústia. Isso talvez é o que
mais me atrai nas canções de Lupicínio e também a raiva; gosto muito de
trabalhar com a raiva, a revolta. Nele tudo é verdadeiro e raiva e angústia são
meio difíceis de fingir. Por essa observação penetrante do ser humano nas
situações limites da dor amorosa, por esse humor que permeia as canções, um
humor voltado para a ironia e o sarcasmo; por tudo isso estava atravessada a
vontade de cantar Lupicínio."
Arrigo investe em releituras particulares das músicas do artista
boêmio desde 2009. O trabalho cria uma discussão paralela sobre os rumos da
canção e reflete sobre a patrulha por um programa estético de bom gosto que
sempre acompanhou a história da música popular brasileira.
Vestido com camisa vermelha, como Lupicínio, Arrigo transforma as
desventuras amorosas do compositor em canções contemporâneas, cheias de humor e
sarcasmo. Lamento marco da carreira de Lupicínio, Vingança (que assim como Arrigo completou 60 anos de vida) torna-se
um samba blues debochado. A narração
inicial de Nervos de Aço estabelece
relação com a vanguarda paulista em citação do discurso policial radiofônico de
Clara Crocodilo e ainda faz
referência à capa do disco homônimo de Paulinho da Viola.
Serviço
Arrigo Barnabé: Caixa de
Ódio – O Universo de Lupicínio Rodrigues
Local: Andarilho Bar e Restaurante, em
Campinas. Rua Sampainho, 197 - Cambuí
Data: 18 de abril
Horário: 21h30
Ingressos: R$35,00 antecipado e R$50,00
no dia
Informações: (19) 3254-3721.
QUEM É ARRIGO BARNABÉ
Compositor, cantor e instrumentista paranaense, um dos mais
inovadores da música popular brasileira pós-tropicalismo. Arrigo Barnabé nasce
em Londrina e muda-se para São Paulo, onde cursa as faculdades de arquitetura e
composição na Universidade de São Paulo (USP).
O início de sua carreira musical é vinculado ao movimento
vanguarda paulistana, com preocupações experimentais e anticomerciais. Em 1979,
concorre no Festival Universitário da TV Cultura com as músicas Diversões Eletrônicas, que obtém o
primeiro lugar e Infortúnio. No mesmo
ano canta, no Festival da TV Tupi, Sabor
de Veneno. Lança no ano seguinte o disco Clara Crocodilo, composto em forma de suíte com arranjos para
grupos instrumentais.
Nos anos 80, compõe trilhas para cinema e teatro e recebe vários
prêmios: no Festival de Gramado (1983), pela trilha sonora do filme Janete, de Chico Botelho; no Riocine
Festival (1985), pela música do filme Estrela
Nua, de José Antônio Garcia e Ícaro Martins; em 1986, de melhor composição
para teatro, pela música de Santa Joana e de melhor trilha sonora no Riocine Festival,
pela música de Cidade Oculta, de
Chico Botelho; dois anos depois, no Festival de Cinema de Brasília, de melhor
trilha sonora, pelo filme Vera, de
Sérgio Toledo e no Festival de Cinema de Curitiba, de 1988, de melhor trilha
sonora, pela música do filme Lua Cheia,
de Alain Fresnot. Nesse período, suas composições são consideradas distanciadas
do atonalismo e dodecafonismo do início de sua carreira.
Seus discos passam a ser produzidos pelas grandes gravadoras e não
mais por selos independentes. Nos anos 90, retoma seu interesse pela música
erudita e compõe a "pseudo-ópera" (segundo sua própria definição) Gigante Negão (1990). Excursiona pelo
Brasil e exterior e participa de festivais como os de Berlim (1993) e Córdoba
(1995).
Em 1999,
funda a gravadora Thanx God Record e regrava e relança o álbum Clara Crocodilo. Compõe a trilha sonora
do filme do cineasta Ricardo Bravo, Oriundi,
de 2000 e participa do longa-metragem O
Olho Mágico do Amor, filme da dupla José Antonio Garcia e Ícaro Martins. Em
2001 monta a ópera O Homem dos Crocodilos
- Um Caso Clínico em Dois Atos.
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