O Papa em São Paulo

Desembarcou às 16h02 em São Paulo Sua Santidade O Papa Bento XVI. Com um português bastante razoável, infinitamente melhor que o de seu antecessor, Sua Santidade fez um discurso interessante, voltado para o que parece ser um projeto de estimular o aspecto missionário da Igreja. Com o tamanho e as ramificações de sua estrutura, a Igreja realmente pode fazer a diferença.
Submetido à jequice do cerimonial brasileiro, que contou com várias momentos de falta de agilidade (coisas tipo 'Já está pronto o carro?!', com o convidado já se dirigindo a ele, sabe como é?), em que foi visível que nem mesmo seu anfitrião sabia qual era o próximo passo, o Papa aparentava boa disposição e até mesmo jovialidade, considerando-se seus 80 anos (nem precisa dizer que o indefectível José Sarney foi o que mais se demorou no cumprimento ao Papa, ele que se acha mais realista que o rei).
Bento XVI, que não é globetrotter como seu antecessor, na verdade demonstra deferência para com o Brasil, já que, das cinco viagens que fez em seus dois anos de pontificado, duas foram para sua Alemanha natal, uma para a Polônia, uma para a Espanha e a outra para a Turquia, era tudo 'por ali'. Viajou longe para encontrar um país onde a imensa maioria se diz católica, mas também usa camisinha, faz aborto, se divorcia, freqüenta cartomantes, faz sua fé no bicho quase todos os dias, come até buxada de bode na Semana Santa e por aí vai. Só falta a união de pessoas do mesmo sexo (infelizmente). Por enquanto.
O dilema é que a secularidade da Igreja e seus dogmas, que são seu maior patrimônio, paradoxalmente a afastam, cada vez mais, do âmago de seus fiéis. A imensa maioria dos católicos professam uma fé customizada, em que alguns preceitos são seguidos e outros ignorados. E que, em outras palavras, pode ser definida como hipocrisia. Como é impossível excomungar tanta gente, é mais fácil crer que, de alguma forma, em algum momento, a Igreja vai acabar capitulando e mudar ou ao menos flexibilizar a si própria. A alternativa é definhar.