Para pensar:

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Mario Quintana

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Eduardo Okamoto mergulha no universo do escritor Kenzaburo Oe e apresenta “Oe” com pré-estreia no SESC Campinas

Foto: divulgação.
O ator Eduardo Okamoto – Prêmio APCA e duas vezes indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator - apresenta em Campinas seu mais recente trabalho, Oe. O espetáculo é inspirado na obra de um dos mais populares romancistas do Japão, Kenzaburo Oe (Prêmio Nobel de Literatura/1994). Com direção de Marcio Aurelio e dramaturgia de Cássio Pires, a montagem tem sua pré-estreia no SESC Campinas nos dias 5 e 6 de setembro às 20h.
Para realizar Oe, Okamoto mergulhou no vasto universo do escritor japonês, estabelecendo relações entre a obra de Oe e a cena propriamente dita, com destaque ao romance Jovens de um novo tempo, despertai!. A obra aborda as interações entre o autor e seu filho mais velho, Hikare Oe, nascido com hérnia cerebral que resultou num forte autismo.
Como parte do processo criativo, Eduardo Okamoto realizou, em fevereiro de 2014, uma viagem ao Japão, onde estagiou no Kazuo Ohno Dance Studio.
A estreia oficial do trabalho está programada para março de 2015. 

Ficção e biografia
Em Jovens de um novo tempo, despertai!, livro de Kenzaburo Oe que é a principal referência para a peça, o autor procura definições sobre a sociedade e a vida (morte, sonho etc.) para o seu filho mais velho, deficiente intelectual. Como em muitas produções deste escritor, o livro sintetiza ficção, ensaio literário, mitologia e dados autobiográficos (com o autor explicitando o relacionamento familiar com o seu primogênito autista).  
A enfermidade do filho é recorrente na obra de Kenzaburo Oe. O filho viveu até os seis anos de idade sem desenvolver a capacidade da fala. Não parece humano, declara o personagem Bird, de Uma Questão Pessoal , sobre o bebê que, no nascimento, aparentava ter duas cabeças, com parte do cérebro expandindo-se por uma fenda no crânio. Demonstrando grande sensibilidade auditiva e aprendendo a falar ao reconhecer o som dos pássaros, o menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor e pianista respeitado no Japão e fora dele.   

Encenação
No espetáculo, porém, a obra do escritor nipônico não é lida meramente como uma narrativa de auto superação. Primeiro, porque seus criadores reconhecem que não há limites claros entre a singularidade de um único homem e a universalidade do conjunto plural dos homens. Assim, a partir de uma narrativa pessoal, o espetáculo propõe um chamado para novas formas de cidadania, baseadas na responsabilidade intransferível de cada ser sobre suas ações: [há uma] conexão existente entre a violência em escala mundial, representada por artefatos nucleares, e a violência existente no interior de um único ser humano, escreve Kenzaburo Oe.  Além disso, o autor nipônico vê na ficção e no ofício do escritor uma forma, comparável ao universo simbólico dos sonhos, de significar as experiências. O mundo só faz sentido quando contado, reinventado pela história. Assim, na obra de Oe, definiu a Academia Sueca que lhe concedeu o Nobel, mito e vida convergem sob a forma de um panorama desconcertante da condição humana atual.  
Para dar conta desta ampla leitura da obra do escritor, a dramaturgia do espetáculo não dramatiza passagens da obra do escritor japonês. Narra-a, observa o diretor Marcio Aurelio. Assim, mais que encontrar situações dramáticas que traduzam a literatura, o espetáculo apresenta uma espécie de leitura pública da obra. Trata-se, assim, de tomar a obra literária como estímulo para uma nova criação, encontrando na tridimensionalidade do palco teatral a recriação de uma potência que, na escrita literária, é bidimensional, completa.
O espetáculo usa pouquíssimos recursos materiais, concentrando a sua expressividade na tríade: espaço, ator, palavra. Num espaço praticamente vazio, o diretor encontra substrato para a abertura de imaginários do espectador. Neste espaço, o ator experiência e partilhas narrativas físicas, vocais e literárias. Os criadores, através destes procedimentos, procuram encontrar suporte para uma expressão precisa (tal qual a partitura musical) e aberta (como se vê na literatura, impulso para a imaginação). Há de se ver a peça, portanto, como quem lê um bom livro.  

Eduardo Okamoto, ator
Eduardo Okamoto é ator, bacharel em Artes Cênicas, Mestre e Doutor em Artes pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde atualmente é docente. Apresentou espetáculos e atividades formativas em diversos estados brasileiros e no exterior: Espanha, Suíça, Alemanha, Marrocos, Kosovo, Escócia e Polônia. É autor do livro Hora de Nossa Hora: o menino de rua e o brinquedo circense (Editora Hucitec, 2007). Em 2009, foi indicado ao Prêmio Shell na categoria de Melhor Ator sua atuação em Eldorado (direção de Marcelo Lazzaratto e dramaturgia de Santiago Serrano). Em 2012, foi indicado novamente ao Shell de Melhor Ator por sua atuação no espetáculo Recusa, da Cia. Teatro Balagan, com direção de Maria Thais e dramaturgia de Luis Alberto de Abreu. No mesmo ano, recebeu o Prêmio APCA de Melhor Ator por sua atuação neste espetáculo que obteve mas de 11 indicações para importantes premiações no panorama nacional das Artes Cênicas.

Marcio Aurelio, diretor
Marcio Aurelio é um dos mais premiados e reconhecidos diretores do teatro brasileiro. Três anos após o início da carreira já recebia, em 1977, o prêmio APCA de Melhor Espetáculo. Desde então, Marcio vem recebendo diversos prêmios, como o Mambembe de Melhor Espetáculo por nada menos que cinco peças: Lua de Cetim, Édipo Rei, Pássaro do Poente, Hamletmachine e Ópera Joyce. Senhorita Else e Édipo Rei foram premiadas também pela APCA, enquanto Pássaro do Poente e Hamletmachine receberam o Prêmio Molière na categoria Direção, além de vários outros prêmios.
Recorre, com frequência, à montagem de clássicos, integrais ou adaptados, recuperando experiências ligadas aos procedimentos dramatúrgicos e aos aspectos estilísticos, na busca de uma nova forma de expressão. Marcio Aurelio assina, frequentemente, a cenografia e figurinos de suas direções. Paralelamente à carreira de encenador, é professor de Interpretação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sendo um dos poucos artistas que possui livre docência no país. Como tradutor, assina as traduções de Baal, de Bertolt Brecht, em 1983 e Filoctetes, de Heiner Müller, em parceria com Willi Bolle, em 1986.

Cássio Pires, dramaturgo
Cássio Pires é mestre em Artes Cênicas e Bacharel em Letras pela USP e integrante fundador do Coletivo Teatral Filme Bê. Escreveu, entre outras: Verbo, criação de Isso não é um grupo e onde também assina a direção; Ifigênia, encenada pela Cia. Elevador de Teatro Panorâmico (texto indicado ao Prêmio CPT 2012); Os Amigos dos Amigos, criação do Coletivo Teatral Filme Bê a partir da obra de Henry James (Prêmio de Melhor Espetáculo do Cultura Inglesa Festival 2011); Teseu, texto escrito a convite do Projeto Conexões 2011, promovido pelo National Theatre e pelo Conselho Britânico; A Carne Exausta, encenada por Paulo Azevedo no Teatro João Caetano e Vigília, encenada no Intercity Festival 2007 (Teatro della Limonaia, Florença, Itália), entre outras.
Assinou ainda as adaptações de: A Sonata Kreutzer, de Tolstoi, dirigida por Marcello Airoldi; A Chuva Pasmada, de Mia Couto, encenada por Eduardo Okamoto em parceria com Matula Teatro, sob direção de Marcelo Lazzaratto e O Rouxinol, de Andersen, encenada pela Cia. da Revista (Teatros Alfa, Promon e Sérgio Cardoso).

Kenzaburo Oe, escritor
Nasceu em 1935, no lugarejo de Ose. Ainda estudante de literatura francesa em Tóquio, estreou na ficção e conquistou o cobiçado Prêmio Akutagawa. Um dos romancistas mais populares do Japão, sua obra compreende inúmeros contos, escritos políticos e um famoso ensaio sobre Hiroshima. Em 1967, recebeu o prêmio Tanizaki e, em 1994, o Prêmio Nobel de Literatura.  

Ficha Técnica
Espetáculo inspirado na obra de Kenzaburo Oe
Encenação e iluminação: Marcio Aurelio 
Dramaturgia: Cássio Pires
Atuação: Eduardo Okamoto
Assistência de direção: Lígia Pereira
Assistência de iluminação: Silviane Ticher
Orientação corporal: Ciça Ohno
Figurino, Cenário e Trilha Sonora: Marcio Aurelio  
Assistente de Figurino e Cenário: Maurício Schneider 
Fotografia: Fernando  Stankuns
Design gráfico: LuOrvat Design
Orientação pedagógica do projeto: Suzi Frankl  Sperber
Coordenação Técnica: Silvio Fávaro
Assessoria de imprensa: Maria Claudia Miguel
Produção executiva: Mariella Siqueira
Direção de produção: Daniele Sampaio | SIM! Cultura

Serviço
Oe, solo de Eduardo Okamoto
Com direção de Marcio Aurelio e dramaturgia inédita de Cássio Pires
Onde: SESC Campinas - Rua Dom José I 270/333 – Bonfim, Campinas
Quando: 5 e 6/09 (sexta-feira e sábado)
Horário: 20h
Ingressos: R$2,00 (Comerciário) R$5,00 (meia) R$10,00 (Inteira). À venda a partir do dia 26 de agosto, às 17h30 na Central de Atendimento do SESC Campinas
Informações: (19) 3737-1500.

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