Para pensar:

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Mario Quintana

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Artigo: "Síndrome de Post-it", por Olavo Furtado

Recentemente li uma notícia que ilustra bem o momento que vivemos. Um jovem londrino desenvolveu um aplicativo (app) e o vendeu por US$30 milhões para o Yahoo! Ele tinha apenas 17 anos. Ele foi notícia na mídia, para a alegria de milhares de jovens desenvolvedores de apps e loucos por um start-up que lhes dê uma vida confortável antes de chegarem aos vinte e cinco anos.
Este caso me remete à história do Post-it. O Post-it é fruto de uma ideia fracassada somada à nossa humana necessidade de organização. A origem se deu quando dois engenheiros da 3M – um inventor de uma cola que não colava bem (em 1968) e outro um anotador em papéis de pão soltos dentro de um livreto religioso (em 1974) – se juntaram para fazer o Post-it. Foi um sucesso instantâneo? Nem pensar. O lançamento ocorreu somente em 1977 nos EUA e 1978 na Europa. Mas deu certo no mundo todo e hoje vende milhões e milhões de dólares por dia.
Estas duas invenções nos fascinam, obviamente. A genialidade humana, no meio de tanta esquisitice, realmente nos causa um bem estar imensurável. Digo sempre que precisamos de heróis e gênios para continuar enfrentando a vida. Mas é preciso entender o contexto destes produtos. Os dois casos, tanto do jovem londrino quanto do Post-it, são casos raros de sucesso, frutos muito mais da necessidade, do investimento e do esforço do que da genialidade de uma musa executiva e inspiradora. São casos que tiveram a sorte de cair nas graças de grandes empresas multinacionais com muita bala na agulha para gastar o tempo e os tubos com boas ideias que poderiam ou não virar produto comercializáveis. Na maioria dos casos, não viram.
Cheguei aonde eu queria chegar.  Jovens recém-ingressantes no mercado de trabalho ou ainda em fase de maturação aqui vai um alerta: cuidado com a Síndrome do Post-It! Boas ideias, realmente boas, empresas com potencial para gerar receitas absurdas, aquele start-up que é muito mais o sonho revolucionário seu e de seus amigos do que o de consumidores e investidores, hoje, com a projeção midiática de alguns poucos ungidos, funcionam como o canto da sereia dos blogueiros e dos geeks. Todo mundo acha que tem um Post-it na cabeça e que ele vai lhe permitir ficar tocando guitarra o resto da vida na garagem. Basta apenas encontrar um engravatado endinheirado, vender a ideia e pronto, já posso participar do Two and a Half Men pelo lado do garotão milionário e descompromissado. Ledo engano que o novo século XXI incute nas, por vezes vaidosas, cabeças.
Não estou dizendo que você deva largar suas ideias ou seus sonhos e voltar a por tantas vezes injustiçada vida cotidiana. Apenas estou dizendo para pegar agora algo que você só vai querer depois de 30 anos de experiência: cautela.
Em tempo: da mesma forma que o Post-it, a invenção de nosso jovem londrino chamava-se inicialmente Trim It. Well, it would be a signal

Nenhum comentário: